Entrevista com Sick….

Primeira entrevista desse blog será com Sick, um cara que admiro muito, tanto profissionalmente, como pessoa, irmão para mim.

Naquela época que fotolog era moda e todo mundo tinha, encontrei um cara fazendo um implante nele mesmo: Era o Sick.

Pirei naquilo,  quase ninguém fazia implante, muito menos em si próprio, puts, queria conhecer aquele cara, isso já faz muitos anos.

Conheci o Sick em uma convenção em São Paulo e nos tornamos grandes amigos, não só o Sick, mas toda família dele, e nesses tempos que passei perdido pelo mundo, a casa do Sick foi meu abrigo em São Paulo, indo ou voltando de qualquer lugar, sempre parava pra descasar, uns dias ou até meses.

Quem vive no meio de modificações, tanto profissionais, como amantes das body art, sabe de quem to falando, mas para quem não conhece, vamos lá:

Sick fez um nome forte no meio da bodyart se dedicando a modificações pesadas e extremas, se formou auxiliar de enfermagem, apenas para aprender sobre técnicas que precisaria nas modificações, quando tirou proveito de tudo, pulou fora da futura profissão ( a mãe dele sempre reclama disso ), pois queria fazer modificações, não ser enfermeiro.

Começou fazendo seus primeiros implantes nele mesmos, depois em amigos e pronto: Para espalhar seus trabalhos em todo mundo, foi um pulo, seus trabalhos envolvem: Scar, ear pointing, tongue spliting, transdermais e principalmente implantes 3D, que é a grande paixão.

É  só olhar pra Sick, pra ver o amor que ele tem pelas modificações em geral:  Tatuagens em boa parte do corpo, incluindo mão e rosto, implantes na testa, braços, mãos, pernas, tem também  orelhas e lábios alargados e por ai vai, carrega em todo seu corpo a paixão que tem pela bodyart, ele não é mais um modista preocupado em impressionar ninguém, ama realmente o que faz e abriu mão de muitas coisas na vida por conta disso.

Sick se especializou em implantes numa época que poucos faziam e dominavam o mercado, existiam algumas pessoas fazendo isso, mas não se dedicando a apenas isso como ele, insatisfeito com os resultados de alguns implantes no mercado, por conta das peças utilizadas, ele começou a fabricar suas próprias jóias, respeitando assim, a anatomia de cada pessoa em que fazia o procedimento.

A fabricação das jóias deu tão certo, que ele começou a exportar para vários países, vendendo até peças para a famosa Wildcat.

Com tantos conhecimentos, recebeu convite para trabalhar escrevendo matérias relacionadas a bodyart  para algumas revistas de tatuagens, mas depois deixou de lado, por que percebeu  que as revistas estão mais preocupadas em vendas do que com a qualidade da matéria.

Mas essa matéria, não é para perguntar como ele começou com as modificações corporais, e sim, por que ele deixou de fazê-las.

VS- Estão Sick, vamos começar pelo fim. Vi que você está tatuando há algum tempo. Resolveu parar com modificação corporal?

Sick– Não completamente! Ainda faço modificação, a única diferença é que hoje eu não dependo mais disso. Portanto faço pra quem, quando, se e por quanto eu quiser. Nunca vou deixar de fazer, por que vivi praticamente 10 anos fazendo isso, e faço por que amo meu trabalho, mas me recuso a fazer parte do circo que se formou!

Estou dedicando sim quase que todo meu tempo á tatuagem por que sempre achei que é impossível fazer se dedicar a 2 coisas ao mesmo tempo e fazer as 2 bem feitas.

VS- O que mais que te desanimou? Quando foi que viu que realmente tinha que pular fora e se dedicar a outra coisa?

Sick– Como eu disse antes, esse meio virou um circo! Principalmente no meio de piercing e modificação.

De uns anos pra cá tem aparecido “profissionais” sem a menor noção do básico pra se trabalhar com isso, e cobrando até 1/4 do que eu e alguns outros cobrávamos. Fazendo e falando besteira em canais de televisão em troca de status, achando que é algum tipo de ser superior, e quase sempre mentindo sobre formação e tempo de trabalho. Hoje em dia pra ser um “profissional” desse meio basta dizer que é.

Demorei um tempo até tomar a atitude de jogar tudo pro alto e começar do zero. Mas foi uma das melhores decisões que já tomei.

VS- O que você acha da cena atual de modificações FORA do Brasil? Você acompanha o que acontece lá fora hoje em dia?

Sick– Fora do Brasil ainda existe algum respeito entre os profissionais. Eles ainda se preocupam em ter uma formação. Mas também não é em qualquer lugar. Acho que de tudo que já rolou a uns anos atrás, o único lugar que não sofreu tanto com isso foi a Europa. Por que América do Sul num geral virou palhaçada. Salva uma meia dúzia de pessoas e olhe lá.

VS-   Como você vê a cena atual de modificações  no  Brasil? Está acompanhando alguma coisa???

Sick– Larguei mão de tudo! Não tenho mais contato com pessoas do meio. E os poucos que ainda converso nem toco no assunto de modificação. O que sei é o que tenho visto na internet, televisão, revistas… E a tendência é só piorar. Cobra engolindo cobra, e todo mundo se chamando de irmão. Isso resume bem a “cena” da modificação por aqui.

VS-   Depois de tanta coisa que já viu e que já fez, como você vê o futuro da modificação no Brasil? evolução ou retrocesso?

Sick– Sinceramente, do jeito que as coisas estão caminhando, espero que todo mundo se engula de verdade e sumam todos.

Tenho alguma esperança desse povo todo sumir, e renovar essa galera toda, sem tanto oportunista envolvido.

Conversando com um amigo, me disse que rolou isso na Espanha. Demorou uns anos, mas acabou voltando a ser o que era. Espero que aconteça o mesmo por aqui.

O dia que isso acontecer, eu volto a tratar a modificação como trabalho, e não apenas como passa-tempo ou diversão.

VS-O que você acha que mudou desde que você  começou até hoje? Falo tanto de mods, como de piercing básicos e tattoos, você acha que hoje em dia, com tanta facilidade de se ter materiais de boa qualidade nas mãos, as coisas melhoraram?

Sick– Mudou e mudou muito. O lado bom é que apareceram novas técnicas, materiais e alguns bons profissionais. O lado ruim é que muita gente que só enxerga o dinheiro na frente da cara, fez disso um comercio, tanto com curso quanto com venda de material.

Em relação aos cursos e workshops, foi um tiro no pé. Um circulo vicioso que vai ser difícil de se desfazer. Um vai e faz o curso, daqui a 6 meses ele mesmo tá dando curso e assim vai (eu mesmo já vi isso acontecer), e cobrando um mais barato que o outro. Por que hoje em dia ninguém se garante com o trabalho! Disputam cliente no tapa e conquistam pelo preço e não pela qualidade.

Já em relação a venda de material, temos que agradecer e muito a mão de obra escrava e os preços surreais de coisas vindas da China.

Hoje em dia se compra maquina de tatuagem por 4 dólares, ou seja, menos de 10 reais.

O meio da tatuagem só não virou zona ainda por que não basta você ter o material ou um curso meia boca. Ou você é bom no que faz, ou não é. Falar que faz e acontece com tatuagem não do tanto resultado, tem que mostrar trabalho.

VS-   Agora que estamos no fim, como foi que você começou a se envolver com as modificações? Quando foi o inicio de tudo?

Sick– Foi por volta de 2000. Coisa de adolescente que queria ter piercing (o que na época era absurdo). Comecei me furando, depois meu irmão, amigos e decidi ter isso como profissão.

Recebi ajuda de algumas pessoas, fui aprendendo aos poucos, até que decidi fazer um curso de enfermagem pra ter mais segurança no que fazia.

Formei-me auxiliar de enfermagem com 18 anos e comecei a ir atrás de aprender técnicas de modificação corporal.

Depois de algum tempo trabalhando já com modificação, comecei a fabricar peças de implante, primeiro pra uso próprio, e com algum tempo comecei a exportar.

Tenho clientes até hoje e já exportei para países como Alemanha, Espanha, Republica Tcheca, Japão, França, Portugal, Argentina e mais alguns que não me recordo agora. Inclusive minhas peças foram vendidas por um tempo na Wildcat da Espanha, inclusive a peça de caveira pra implante, que foi criação minha, e até o momento não vi nenhuma com o resultado de uma peça que fiz e eu mesmo implantei na minha mão.

VS- Estou como sempre acompanhando seus trabalhos, e agora, acompanhando você tatuar, como foi essa sua entrada no mundo das tatuagens? Como resolveu começar a tatuar e por quê?

Sick– Já fazia algum tempo que não fazia mais modificações, só alguma coisa que aparecia, mas deixei de divulgar.

Um dia em casa de bobeira e rabiscando comecei a pensar no assunto, e decidi arriscar. Fiz um “rolo” com um amigo. Ensinaria modificação pra ele em troca do material de tatuagem (mais ou menos 3 mil reais de material), o suficiente pra começar, e usando material de qualidade.

Contei com o apoio de alguns amigos pra serem cobaias, e é claro que as primeiras não ficaram como eu queria, mas aos poucos tenho evoluído estudado, me dedicado de verdade a isso. E foi uma decisão que tomei sem nenhuma noção de como seria, mas não me arrependo e não pretendo parar mais.

E o motivo já citei antes, mas vale repetir.

ME RECUSO A FAZER PARTE DESSE CIRCO (Modificação corporal)!!!

VS- Até agora tenho visto só trabalhos  seus  de caveiras, estilo Paul Booth, vai seguir essa linha sombria de tatuagem? Quem são os artistas que tem como inspiração?

Sick– Pretendo sim seguir essa linha de trabalho. Primeiro porque me agrada muito, e segundo porque pelo menos no Brasil faltam profissionais que se dediquem só a isso.

E artistas que admiro têm vários, mas os principais são sem duvida o Paul Booth (é claro), Victor Portugal e Toxic.

VS- E pra terminar, quais são seus projetos futuros?

Sick– Na verdade não tenho planejado nada muito além de me dedicar ao que estou fazendo. Todo o resto que acontecer vai ser conseqüência de um trabalho bem feito ou não. Hoje em dia minha única meta pro futuro é chegar no nível (ou próximo) desses artistas que citei, e vou trabalhar pra isso. E sem duvida viver disso, do único jeito que sei viver. De preferência viajando pra mostrar meu trabalho.

Nada como ser livre pra fazer o que quer e trabalhar com o que gosta. Meu objetivo é continuar assim!

” Acredito em seguir meu próprio caminho
Nao interessa para onde o resto do mundo esteja indo
Acredito em enfrentar um sistema que esmaga indivíduos como insetos num para brisa
Alguns de nos acreditam no cara la de cima
Eu acredito nos caras aqui embaixo
Acredito em liberdade
Acredito em não me sujeitar a quem quer que seja
Acredito em vestir preto porque não mostra sujeira nem fraqueza
Acredito que o mundo esteja ficando frouxo, mas não estou nessa
Acredito que a vida é o que você faz dela
e vou fazer dela uma viagem e tanto
E não estou nem ai para o que os outros acreditam”

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9 Respostas to “Entrevista com Sick….”

  1. […] Entrevista com Sick, falando sobre modificações, seu novo caminho das tatuagens … (confira aqui) […]

  2. parabens pela entrevista essa troca de informaçaum eh muito valida eh sempre bom ler…dois caras q tenho admiraçaum

  3. Finalmente alguém com coragem suficiente pra falar oque a maioria pensa sobre a DIVINA “cena” atual da modificação no Brasil! parabéns ao Sick e ao Vida Suspensa!

  4. fora o circo!

  5. Muito Bom ! Grande profissional !

  6. UM PROFISSIONAL, RARO PQ POUCOS TEM SUA ETICA, E NELE EXISTE TALENTO !

    PARABENS !

  7. Muito boa Matéria camaradas.
    Nada como ouvir alguem que sabe o que esta falando.
    abraço

  8. Obrigado pela consideração!

  9. Realmente é isso que aconteceu, e foi oque me fez ir embora desse circo do brasil, todos lutando para porem o nome no topo, ainda pela Europa podemos fazer bem o nosso trabalho sem a preocupação de mercenarios agarrando pelo pescoço nossos clientes, tbm existe maus “profissionais” como qualquer lugar, mais nao se compara ao brasil.

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